Professora de Educação Física
"A pessoa vem em primeiro lugar.
E só depois o atleta."
José Gomes Pereira
Responsável do departamento
clínico do Comité Olímpico Internacional
O mundo segue em alerta com a pandemia do coronavírus.
Muitas pessoas, como nós, estão confinadas em suas casas. Claro que isso acaba sendo um "privilégio" para alguns, mas também um grande sacrifício para outros!
No desporto não é diferente: alunos/atletas, procuram formas de lidar com esta nova realidade. Mas mesmo com este esforço, a instabilidade leva a consequências emocionais.
No imaginário de algumas pessoas, os jovens atletas são imunes, pois são saudáveis e nada lhes acontece. Será verdade?
O jovem atleta e aluno é um ser humano como outro qualquer. E também tem família com a qual convive no seu agregado familiar mais restrito para a qual poderá sempre transportar o vírus…
Estou protegido? Se sair daqui e encontrar-me com a minha família, ficará tudo bem? Não vou contaminar ninguém na minha casa? Essa preocupação, que é salutar, existe.
Todos os intervenientes estão em casa desde que as escolas encerraram, a 16 de março, para impedir a propagação desta pandemia que nos caiu em cima. Muitos dos nossos alunos tinham já pais a trabalhar presencialmente e estavam ainda mais sozinhos. Sem poder ir à escola, sem ter a presença física dos amigos e privados de coisas como a sua atividade desportiva quer seja de carácter competitivo ou não. A situação de confinamento coloca a todos uma série de desafios.
Aos meus alunos/atletas, em casa, lancei o desafio de partilharem connosco o seu dia a dia, como têm feito para continuar em forma e as suas preocupações neste tempo de pandemia.
O excerto publicado em baixo é um entre muitos dos que compilámos no livro Eu, atleta, e a pandemia, ao qual podem aceder através do link no final do artigo.
Obrigado, queridos alunos, pelo vosso testemunho, pela partilha do modo como têm vivido este tempo em família, comunicando uns com os outros com a preocupação de não deixar ninguém só!
Agora, todos queremos voltar a treinar e jogar com os nossos amigos. Por isso vamos desfrutar desta liberdade condicionada com prudência, responsabilidade e civismo.
Este não é o momento para desistir de sonhar!
Excerto do livro Eu, atleta, e a pandemia
Ana Beatriz Pedro – 8ºH
Estamos numa fase em que tudo nos preocupa, coisas que antes no nosso dia a dia não tinham importância, mas que agora que estamos em tempo de pandemia passaram a ser relevantes.
Eu sou atleta federada de Andebol e o que mais me preocupa neste momento é o facto de não saber quando é que vou poder voltar a jogar.
Pratiquei Andebol durante 2 anos, sem qualquer tipo de paragem, e agora que já estou parada há alguns meses, sinto saudades de tudo que envolva a modalidade. Tenho imensas saudades do convívio que existe no meu clube, porque somos basicamente uma família, o apoio e a cumplicidade que existe entre nós é simplesmente espetacular! Também tenho saudades de treinar com a minha equipa porque, embora houvesse contratempos, como é normal numa equipa, passámos bons momentos juntas com o nosso treinador que se junta sempre à festa.
Apesar de não estar com eles continuamos a ter contacto através de vídeo chamadas. Visto que não podemos treinar no nosso pavilhão todos juntos, fazemo-lo virtualmente, pois o presidente do clube tem tido iniciativas muito bonitas nesta fase em que para nós é difícil de lidar. Decidiu então criar um grupo no Skype para que ele pudesse dar-nos treinos tal como se estivéssemos no nosso pavilhão. O nosso presidente tem sempre ideias incríveis, então há alguns meses, ele e os restantes treinadores do clube, decidiram colocar uma baliza em cima de uma das carrinhas do clube com sítios para nós acertarmos com a bola. Vieram às nossas casas com música e com esse desafio para nos proporcionar um momento mais alegre. Tomaram todas as medidas de precaução trazendo álcool gel e desinfectando sempre as bolas após terminarmos o desafio.
Como já referi, tenho treinos virtuais, por isso a minha forma física continua bem! Embora estejamos confinados em casa é bom continuarmos a praticar exercício físico porque faz bem à nossa saúde. Quando estou a treinar, por momentos, consigo esquecer todos os problemas que se passam em meu redor.
Quando a pandemia passar e pudermos regressar à modalidade tenho imenso receio de ter perdido o ritmo e alguma agilidade na modalidade. Vou ficar super contente por poder voltar, como é óbvio, mas vou estar um pouco receosa por não estar segura do que estou a fazer. Vou estar sempre naquele impasse de «Será que estou a fazer isto corretamente?».
Acho que, de certa forma, a maioria das pessoas concordam que a nossa maior dificuldade nestes tempos é estarmos longe da nossa família. Antes estávamos habituados a ir visitá-los sem qualquer tipo de restrições e agora que não o podemos fazer o que é muito complicado. O meu primo nasceu um mês antes da pandemia começar e embora eu faça vídeo chamada com a minha tia diariamente para o poder ver não é a mesma coisa. Pensei que iria passar os fins de semana todos agarradinha a ele e a dar-lhe miminhos, mas parece que, infelizmente, terei de esperar.
Embora existam estas dificuldades todas, há sempre algo que nos faz sentir mais seguro.
A mim o que me faz sentir segura é o facto saber que ninguém na minha família foi infetada pelo vírus. Os meus pais não deixaram de trabalhar e estava sempre com receio que eles estivessem contaminados, mas quando eles fizeram o teste e deu negativo senti-me abençoada, sortuda e a cima de tudo segura.
A primeira coisa que eu quero fazer quando tudo terminar é reunir os meus amigos e darmos uma festa para celebrar «a volta à normalidade».
Também quero ir ver de imediato o meu primo e dar um passeio em família pela cidade de Lisboa.
Espero que isto se resolva o mais rápido para podermos voltar ao nosso quotidiano e convivermos entre nós como antes.
Espero que estejam todos a salvo e ótimos de saúde, vai tudo ficar bem!
Clica na imagem para aceder a Eu, atleta, e a pandemia
