Por Leonor Bento
Saio de casa, já atrasada, entro no carro. Estou a ir para a escola, quando penso, “a máscara?”. Volto para trás para ir buscar aquela que hoje é a nossa “sombra”.
Não vivemos dias fáceis e as medidas impostas pelo governo também não ajudam. Ficar em casa, ao fim de semana, começa a ser hábito. Já não há almoços, já não há passeios, na verdade, já não há vida como antes. Os domingos eram dias de festa. A família à volta da mesa, a comer aqueles grelhados feitos pelo avô Luís. Avô? Pois é, ainda o tenho! Temo todos os dias que o possa perder. Se assim for, a última imagem que tenho dele é com um pano a tapar o lindo sorriso que tem. A avó? Todos os dias me liga a dizer que tem saudades. Sente a sua casa vazia, por não me ter lá a cantar enquanto cozinha. Implora que lhe mandemos uma foto todos os dias, para que possa ver que estamos felizes e que ainda sabemos sorrir quando a vemos.
Sorrir? O que é isso, na cabeça daqueles que nascem sem saberem que os pais não são os únicos que sorriem. Aqueles que nascem, e futuramente crescem, a pensar que o mundo sempre foi assim. Aqueles que, depois da escola não vão ao parque com os amigos, não brincam à apanhada e não trocam gomas.
Que isto possa ser uma lição e que, mais tarde, possamos ensinar aos nossos filhos e netos que também podemos sorrir com os olhos, pois em tempos, tivemos de aprender a fazê-lo, não havia outra solução.
Image by Gerd Altmann