Por Filipa Gonçalves
Não tenho muita idade, nem uma grande experiência de vida. Para falar a verdade, sou apenas uma adolescente.
Desde pequena, sempre tive uma boa relação com os meus vizinhos. De manhã, ia ao padeiro, na rua da frente, ao senhor Júlio, comprar o pão e ele e a sua mulher sempre foram muito atenciosos. Voltava para casa e conversava com uma vizinha, a Manela, que chegava a ter vinte gatos, três cães e três tartarugas. O marido dela, o senhor Toni, estava sempre de volta do pomar ou dos carros. O senhor Daniel, o meu vizinho do lado, costumava jogar à bola comigo e o senhor António, da rua de baixo, juntava-se a nós. Ele tinha um lago com quatro carpas, dois cães e um papagaio. Às vezes, eu via o senhor António a falar com o papagaio.
Hoje em dia, tenho mais vizinhos, mas não conheço ninguém. Têm muros altos e não saem de casa. O padeiro morreu e a sua mulher já não faz pão. A Manela e o Toni continuam de pé, como o senhor Daniel, mas não parecem os mesmos. Quando passo por uma vizinha só dizemos “Boa tarde!” E por aí ficamos.
O senhor António já não fala com o papagaio, ele morreu.
Volto para casa calada, sem dizer “Bom dia” ou até mesmo um simples “Como vai?”
Agora, no lugar das gargalhadas e das conversas temos silêncio. Um silêncio apenas perturbado pelos meus suspiros.
Se calhar, é saudade!...