Avançar para o conteúdo principal

Prof. Elsa Mouzinho - Entrevista






Por Matilde Matos e Carolina Mineiro

A professora Elsa Mouzinho é docente da escola Básica Carlos Ribeiro desde a sua inauguração, em 1995. Já com 30 anos de experiência como professora de Português, Ser + e Cidadania e Desenvolvimento e 3 anos como coordenadora dos diretores de turma, exerceu outros cargos como coordenadora de departamento, coordenadora do programa de educação para valores, entre outros.
Foi a grande impulsionadora do Programa de Educação para os Valores - Dez anos, dez Valores que tem pautado o ensino no nosso agrupamento. 
Para além disso, dá formação aos professores, sempre relacionada com a afetividade e pedagogia ou com equipas educativas e a importância de trabalharmos em conjunto.

Que diferenças encontra entre a escola de há 25 anos e a escola que conhecemos atualmente?
Há vinte e cinco encontrámos uma escola ainda em construção… Recordo que as nossas primeiras reuniões tiveram lugar no Centro de Solidariedade Social de Pinhal de Frades! Começámos com quatro turmas do segundo ciclo e quatro turmas do terceiro. Todos nos conhecíamos e trabalhávamos em conjunto. Éramos tão poucos. Cada turma tinha uma sala de aula. Recordo que para a sala da minha Direção de Turma cheguei a levar uma jarra com flores… Desde o primeiro dia que se verificou uma clara preocupação com a humanização dos espaços. Foi atribuída a cada sala de aula um nome de destaque na área das Artes e da História. A minha era a sala Sophia de Mello Breyner!
Com o passar dos anos, a escola continuou a ser construída por fora, mas, sobretudo, por dentro! Tentámos manter a ideia de uma escola “familiar” tanto tempo quanto possível. Inevitavelmente, mais turmas, mais professores foram surgindo, contribuindo ativamente para o projeto educativo da escola – mais tarde, agrupamento de escolas.

Ao longo dos últimos 25 anos, deve ter tido, com certeza muitos alunos. Acha que os alunos estão diferentes? Olham para a escola de uma forma diferente?
Sem dúvida! A valorização da escola – importante elevador social – foi sofrendo alterações significativas ao longo das duas últimas décadas. Assistimos, hoje em dia, a uma preocupante desvalorização da escola por parte de Encarregados de Educação e alunos. Muitas são as queixas que diariamente ouvimos, em contexto escolar, sobre a falta de empenho e o descompromisso dos alunos relativamente à sua aprendizagem. A introdução das novas tecnologias, as metodologias ativas, gamificação do ensino e as múltiplas ferramentas digitais que têm, gradualmente, marcado a prática didática e pedagógica do nosso Agrupamento visam, entre outros importantes desafios, envolver, motivar estes alunos para a aprendizagem…

Ao longo do seu percurso profissional, é habitual os professores mudarem de escola. O que a levou a permanecer nesta escola durante 25 anos?
Na verdade, não dei por ter passado um quarto de século!
A paixão pelo ensino, a entrega e dedicação incondicional à nossa Escola/Agrupamento cuja filosofia sempre se pautou pelo Humanismo, por Valores fundamentais e por uma pedagogia de afetos foram determinantes para a minha presença durante tantos anos neste espaço de aprendizagem e desenvolvimento integral dos nossos alunos.

Qual foi o maior desafio para com esta escola?
O maior desafio… Foram sempre tantos… Aliás, creio que ser professor é um desafio em si mesmo! A carga burocrática que nos tem vindo a esmagar a nós, professores, as exigências cada vez maiores… Infelizmente, o professor, hoje em dia, não se limita a ensinar… a construir recursos inovadores que cativam cada vez mais os seus alunos… que se encontra disponível para perceber pelos olhos de um aluno que algo não está… proporcionar a partilha de emoções e preocupações de forma individualizada com cada um sempre que necessário… O professor é, muitas vezes, o único adulto de referência dos alunos com toda a responsabilidade que tal função implica… depois há os relatórios que se multiplicam, as grelhas cada vez a exigirem mais e mais informações… O maior desafio? Conseguir SER PROFESSOR apesar de tudo isto! Continuar a amar o que faz no interior da sala de aula… Continuar a acreditar numa pedagogia de afetos e de entrega junto dos seus alunos…