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Saudade Lusitana

Por Marina Rosa

Saudade é um sentimento costurado na alma, em ponto cruz, debruado a vermelho, lentamente, por mãos sulcadas por linhas e ruguinhas em maresias de tempo. Quem é Português cose sentimentos, tristezas e sofrimento na memória como um trilho de lamentos. O Português cultiva a dor como caravelas em alto mar a navegar em marés e cabos de tormentas para ocidente e oriente em busca de poentes de luar. Não está feliz em nenhum lugar, mas pertence a todo o lado. O Português é, diasporamente, uma alma do mundo. De todo o recanto, cantinho acanhado, seara, deserto aberto ou, melhor ainda, rochedo banhado pela água do mar. Sem mar o Português não se sente gente. Fica saudoso. Sem um não sei quê que lhe falta a correr no sangue, tão lusitano. Acho que o Português emigra só para ter saudades. E ficar no peito com aquele desejo de regressar àquele retângulo de gente a que chama de casa.

Saudades são âncoras na areia. Viaja-se e navega-se, mas as raízes prendem-nos, esticam-se como cordas de violão a tocar mágoas no peito dilacerando-o, sempre que o tempo ou a memória nos levam para longe. E aquele sentido de pertença, quase tribal, faz-nos voltar à aldeia que todos nós somos. Adocicamos a alma em broas, bacalhau e migas, pastéis de nata e favos de mel, temporariamente.

Ser Português é ser uma alma grande, cheia de mundos e recantos maravilhosos por onde apetece sempre viajar, pois há sempre tanto para ser e sentir...

A Saudade é um porto. E é tuga. Ela é, saborosamente, todinha nossa.

19.07.2019