Por Inês Simões
No coração da Revolução dos Cravos, que teve lugar em Portugal a 25 de abril de 1974, a música emergiu como uma expressão poderosa de resistência e esperança. Entre as muitas canções que se destacaram nesse momento histórico, "Grândola, Vila Morena" de Zeca Afonso, eternizou-se como um hino icónico na luta pela liberdade.
A música, lançada em 1971, adquiriu uma nova dimensão durante a Revolução dos Cravos, ao ser escolhida como sinal radiofónico para dar início às operações militares que depuseram o regime ditatorial de Marcelo Caetano. A escolha da melodia como código transmitido pela rádio, foi estratégica e simbólica, uma vez que "Grândola, Vila Morena" evocava sentimentos de solidariedade e unidade.
Zeca Afonso, conhecido como o "Trovador da Liberdade", era um músico e compositor comprometido com as causas sociais e políticas. As suas letras poéticas e melodia envolvente tornaram-no uma figura respeitada entre os ativistas que lutavam contra a opressão. "Grândola, Vila Morena" não apenas refletia a resistência do povo, mas também celebrava a diversidade cultural e a promessa de um futuro mais justo.
Para além de Zeca Afonso, outros artistas e outras músicas contribuíram para a trilha sonora da Revolução dos Cravos. Canções como "E Depois do Adeus" (de Paulo de Carvalho) e "Traz Outro Amigo Também" (de Zeca Afonso) tornaram-se símbolos sonoros desse momento de mudança e transição política.
A música popular de intervenção desempenhou um papel crucial na mobilização e inspiração do povo português durante a Revolução dos Cravos. Serviu como uma forma de comunicação alternativa, transmitindo mensagens de esperança, resistência e unidade num momento crucial da História do país. A herança dessas músicas continua viva, lembrando-nos a importância da arte na promoção da liberdade e na resistência contra a opressão.